“A crise educacional não é uma crise e
sim um projeto”, disse Darci Ribeiro. E se nos questionarmos um pouco a
respeito dessa afirmação veremos o quanto ela é verdadeira. A educação definha
em um país tão rico como o nosso e quando tentamos encontrar motivos para isso,
naturalmente, o principal argumento que temos é o da corrupção, entranhada na
história de nossa terra. Mas não é bem por aí, existem fatores muito maiores,
mais antigos e poderosos, que estão por trás desta crise, ou melhor, deste “projeto”.
A
história nos mostra que desde a criação da escrita o homem encontrou meios de
burocratizar e tornar difícil o acesso a tal conhecimento. Os antigos escribas
eram pessoas importantíssimas nas sociedades e repassavam seu conhecimento
apenas aos seus filhos, numa forma de monarquia cujo poder era o domínio da
escrita.
Tempos
depois, já sob o domínio da Igreja, o mundo atravessou um período de total
repreensão sobre todo e qualquer pensamento científico. O conhecimento era limitado
apenas aos clérigos, e em muitos casos, como vimos com Umberto Eco em O nome da rosa, os livros eram
envenenados para que ninguém tivesse acesso ao conhecimento, ou melhor, para
que os que o tivessem não sobrevivessem, garantindo assim a perpetuação da
ignorância entre os fiéis, o povo, a plebe.
Após
muitas lutas: ascensão da burguesia, Revolução Industrial, surgimento das lutas
de classe, guerras mundiais, o homem sofreu um processo que poderíamos chamar
de humanização, pois nos tornamos um pouco melhores: quase acabamos com a
escravidão, ao menos a legal; surgiram constituições, e com elas conquistamos
direitos; mas ainda estamos muito distantes de nos libertarmos do julgo do imperialismo,
da sede de poder, que hoje nos domina sob os moldes do capitalismo. Deixamos de
ser escravos dos senhores feudais e da religião para nos tornarmos escravos do
lucro. E a educação, por mais que tenha se tornado quase universal, ao menos
nos países desenvolvidos, e também em nosso país, nunca passou de uma
ferramenta poderosíssima nas mãos do capital para a manutenção da ignorância,
ou melhor, para amansar a prole, para que em países como o nosso Brasil os
poderosos possam mostrar aos credores que o povo já consegue ler o manual de
uma máquina e apertar um botão, gerando lucros sem danificá-la, e o mais
importante: sem pensar... O que faz a educação tecnicista, se não preparar mão
de obra barata?
Mas
não podemos deixar de reconhecer que houve avanços, pois existem uns poucos
iluminados que conseguem formar-se na escola pública e tornarem-se agentes
transformadores em nossa sociedade, geralmente em cargos educacionais.
Verdadeiros guerreiros que dia e noite enfrentam a dura realidade da
desvalorização do seu trabalho e, o pior, que é ver a educação afundar num
grande mar de problemas que poderiam ser evitados caso não houvesse tantas
artimanhas do sistema para desviar o foco dos jovens do conhecimento, pois convivemos
com alunos que preferem qualquer coisa ao conhecimento. Um reflexo da
fragilidade da família, da falta de cuidado dos pais ou responsáveis, e culpa
principalmente da grande mídia, uma arma enorme nas mãos dos poderosos, que não
incentiva a educação em sua programação, privilegiando o índice de audiência, o
lucro, em lugar da construção de uma sociedade do conhecimento, fazendo da
liberdade de expressão uma verdadeira libertinagem, tornando a sexualidade algo
banal, empobrecendo a nossa cultura, fazendo com que as pessoas não pensem, ou
melhor, fazendo com que pensem naquilo que veiculam, que consumam aquilo que
propagam, que votem naquele que determinam, etc. fazendo do povo o que chamam
de “massa de manobra”.
Enquanto isso, os cargos elitizados:
medicina, advocacia, engenharia, etc. sempre estiveram nas mãos dos filhos dos
patrões ou, em raros casos, dos que se sacrificam para pagar pela educação da
burguesia. O que torna extremamente incoerente o fato de ouvirmos a burguesia a
reclamar da quantidade de impostos que a todo o momento pagamos. Preferem
ausentar-se da luta por uma educação digna, gratuita, a ver os seus filhos,
futuros patrões, estudando ao lado dos filhos de seus empregados. Ou será que
enxergam isso como uma solução para a futura relação de exploração entre seu
filho e o filho de seus empregados? Nem é preciso esforço para encontrarmos a
resposta... A escola particular é sim um instrumento importantíssimo para a
manutenção do poder das famílias burguesas e que deve ser visto por nós,
trabalhadores, como algo a ser eliminado de nossa sociedade. Só assim, talvez,
a escola pública se torne melhor, já que os filhos dos que a regem serão seus
alunos.
Os governos vem e vão, as promessas são
esquecidas, o povo continua vivendo na obscuridade, os tais direitos iguais nem
sequer são conhecidos como direitos pela maioria, que vive mendigando um pouco
mais da esmola que os burgueses nos oferecem para acalmar nossos ânimos e
fazer-nos pensar que melhorou. “Já dá para o arroz, o feijão, às vezes para a carne,
e não falta o da cachaça. Diversão? Na televisão tem a beça: muita música
sertaneja, funk, bunda e sexo. Programação perfeita para o povo. Uma
programação ignorante para um povo que ignora. Tudo perfeito para continuarmos
a dominar esse bom gado, essas boas ovelhas, esse povo maravilhoso que não sabe
o que é política, porque os ensinamos a dizer “política não se discute”. Esse
povo maravilhoso que nos elege de dois em dois anos para continuarmos mamando
nas tetas dessa grande vaca que se chama Capitalismo.” Assim pensam os que nos
oprimem... E nós queremos ao menos pensar?
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