terça-feira, 30 de setembro de 2014

Politização Social: Considerações sobre os adolescentes a família, a c...

Politização Social: Considerações sobre os adolescentes a família, a c...:             Na Rua Governador Valadares, bem próximo ao hospital Santa Maria, havia uma velha casa de madeira. Abandonada pelos seus...

Frases de alunos...




Estava a rever as postagens de meu blog e encontrei esta. São frases dos meus alunos de 2012, alguns deles pivôs do movimento "Mais água", que aconteceu na escola Maria da Glória na semana passada. Essas frases mostram o quanto esses alunos já eram coerentes naquele ano. Quanto ao movimento, repito o que disse ontem, na reunião, a eles: "O movimento precisa ser organizado, politizado, dessa forma faz-se necessário o conhecimento, para que o movimento de vocês não seja fragilizado, criminalizado e nem transformado em politicagem pelos "abutres" da política de nossa cidade.”



“Se ao pegar o livro você disser: ‘Vou pegar esse livro, vou ler e vou me imaginar na história’, assim você vai compreender a história e, no final, você vai falar: ‘Esse livro é bom... Amanhã, vou ler outro!’.”
Érica Souza Lopes – 8º ano B

“Quando a gente vai à frente dos colegas explicar, com todo o amor, com coragem, é porque sabemos falar tudo o que está escrito na leitura, então os colegas perguntam: ‘Por que você sabe explicar tão bem?’, e a gente responde com muita atenção: ‘Porque tenho a leitura comigo...’.”
Antônio Adriano – 8º ano B

“A leitura é a melhor forma de aprendizado”
Dhéssica Rocha – 8º ano B
“Ler e se expressar na frente de todos não é mico, e sim capacidade de mostrar aos outros que você pode chegar a algum lugar e falar.”
Andréia da Silva – 8º ano B
“Para garantir um futuro de sucesso e qualidade de vida basta estudar bastante e sempre ler.”
Érika Silva – 8º ano B
“Os livros, os textos, os poemas nos dão a visão abrangente e diferenciada que a ignorância nos tira.”
Luziane Silva – 9º ano A


“Lendo os livros, aprendemos a ler o mundo...”
Carla Emmanuelly – 9º ano A

“Os livros nos ajudam a sonhar...”
Fernanda Ramos – 9º ano A


“Vamos todos ler
Para melhor aprender!”
Antônia Gilzeneide – 9º ano A

“... na verdade a leitura é a melhor coisa que existe. É como um teatro dentro da sua cabeça dançando balé com a sua imaginação.”
Steffany – 9º ano B

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Não se meta em coisa errada




  Minha tia me dizia para não me meter em coisa errada. Eu entendia o que ela queria dizer, mas o que vinha a ser essa tal coisa errada era um pouco difícil de perceber. A não ser quando fosse muito, mas muito errada mesmo. Mas tudo bem. Acho que não me meti em “coisa muito errada mesmo”, mas um dia eu quase “levei o farelo” por causa de um camarada que conheci na escola. Ele era muito bacana. Sorria todo o tempo. Era boa pinta. Muito popular entre as meninas. Sempre tinha grana pra lanchar e pagar para os outros colegas no intervalo. Não morava na cidade. Dizia que todos os dias pegava o Transbrasiliana, e vinha de Goianésia pra cá. Todos os dias... Imagine a despesa...
Eu até que gostava dele. Pra falar a verdade eu era o melhor amigo que ele tinha na escola. Depois das aulas jogávamos videogame juntos: corrida de carros geralmente. Tomávamos um refrigerante e íamos embora. Ele seguia para a agência da Transbrasiliana e eu para minha casa.
Já estava quase acabando o ano, quando fui convidado por ele para ir à sua casa, passar um fim de semana. Pedi pra minha tia e ela me fez um monte de perguntas sobre o colega e mais um tanto de recomendações. Por fim, deixou que eu fosse.
Na sexta feira, depois da aula, passei em casa, peguei a mochila com algumas roupas e “rasguei” com ele para Goianésia.Chegamos lá e fomos andando para a casa dele. Longe “pra caralho!” Depois de meia hora caminhando chegamos a uma casa recuada, com muitas plantas na frente, até um pé de manga. Casa pequena, de madeira, uma pequena varanda, sala, dois quartos, cozinha e nos fundos o banheiro. Quem nos recebeu foi sua avó. Na verdade só tinha ela na casa. Os dois moravam juntos. Ele havia me dito que morava com os pais, em casa grande, construída, disse que tinham carro e tudo o mais. E agora? Sentou-se na cama e disse que não havia dito a verdade porque tinha vergonha. Disse ainda que seus pais moravam na África fazendo estudos, eram biólogos. Foi bem difícil para eu digerir esse devaneio dele, mas tudo bem. Sua avó era muito boa, uma senhora muito agradável, de voz doce e cabelos branquinhos. Ela me acolheu muito bem.
Saímos à noite e foi aí que descobri que ele tinha muitas amizades, mas todos eram pessoas mais velhas que a gente. Fomos a uma pizzaria na praça, tomar umas cervejinhas. Éramos menores de idade, mas já tínhamos dezessete anos. Ninguém negava bebida pra gente nos bares, e pedir documento, jamais. Não é costume dos bares em nossa região.
De vez em quando algum carro parava, abria o vidro e ele ia até lá, conversava com o motorista e voltava. Acho que só nessas duas horas que passamos lá sentados foram uns quatro carros diferentes. Até que um deles que já havia passado umas três vezes por lá, encostou. O motorista desceu. Era um homem de uns quarenta anos. Sentou-se na mesa com a gente. Fui apresentado. A conversa estava muito legal e ele nos convidou para irmos à sua casa. Disse que tinha um uísque maravilhoso e outras coisas mais. A mulher havia viajado. A casa estava livre para nós. Meu companheiro na hora aceitou o convite, e com entusiasmo. Eu fiquei meio assim, mas fazer o quê, né? Fomos.
O carro do cara era o máximo. Carrão mesmo. A casa então... Entramos e nos sentamos no sofá. A conversa continuou agradável e melhor ainda quando nos foi servido o uísque acompanhado de frios, como tira gosto. O uísque estava muito bom. Acho que eu já estava muito tonto e estava assistindo a um filme que o senhor havia colocado (filme pornô), quando percebi que meu amigo e o cara tinham sumido. Fiquei, assim, desconfiado, me levantei e comecei a procurá-los.
Quando ia entrar na cozinha vi que os dois estavam atracados, se beijando e se amassando. Acho que não me viram. Voltei para o sofá e um turbilhão de pensamentos passava em minha cabeça. Onde é que eu havia me metido? O álcool ajudou ainda mais para que eu ficasse louco. Meu amigo e aquele cara atracados? Ele era gay e eu não havia percebido? Mas ele nunca havia dado sinais disso... E nem aquele homem! Ele era casado! Que porra era essa?
Eles voltaram, eu fiz de conta que tudo estava normal. A sala estava meio escura. O cara sentou- se do meu lado. Pegou na minha perna. O filme pornô rolando. A mão dele foi subindo. Até tocar o meu pinto. Eu fiquei tremendo. Tomei coragem! Tirei a mão do cara de cima de mim, mas ele chegou mais perto. No meu ouvido pediu para eu relaxar. Aí eu não aguentei. Empurrei o cara, me levantei e chamei o meu amigo pra gente ir embora. Os dois pediam para eu me acalmar, mas eu já estava com o sangue fervendo. Disse que não gostava daquilo.
Meu amigo me chamou até a cozinha e lá me disse pra ficar calmo, deixar rolar. Disse aindaque rolava uma grana boa depois. Afinal, como é que ele arranjava toda a grana pra pagar as coisas na escola pra galera e pra andar tão bem vestido? E sua avó? Ele tinha de sustentá-la!
Eu não entendia nada. Eu só queria ir embora. Saí dali para a sala e sem me despedir daquele senhor me dirigi ao portão. Estava trancado. O senhor chegou perto de mim e pediu desculpas, disse que achou que eu, por ser amigo do outro, fazia os mesmos serviços. E disse muito claramente, com todas as letras, para eu fazer de conta que nada havia acontecido ou que eu me esquecesse de sua existência, se não...
Meu amigo me acompanhou. Disse que eu não podia ser assim, tão careta. Disse que era grana fácil e muita grana. Que eu devia repensar, voltar para a casa do senhor e participar da farra homossexual que ele estava pretendendo fazer com a gente. Fiquei puto com ele, xinguei e disse para me respeitar. Garoto de programa? Isso lá é vida! Onde é que fica a dignidade da gente nessa hora? Vender o corpo? Transar com um cara por grana? Loucura!
Nada contra o homossexualismo, mas esse tipo de indução é algo ridículo. O desrespeito dele comigo, me trazendo à sua casa pra curtir um fim de semana legal, mas que, na verdade, era uma iniciação à prostituição, eu não podia perdoar.
Ele viu que eu estava com muita raiva. Pediu pelo amor de Deus para que eu não contasse nada a ninguém. Disse que era por isso que ele não estudava em sua cidade. Os colegas o zoavam muito. Eu fiquei calado, mas minha vontade era de chegar à escola e escancarar a verdade pra galera que o achava tão bacana.
A cabeça esfriou e eu acabei foi ficando com pena dele... Sua vida era uma grande mentira... Coitado... Infelizmente algumas pessoas buscam caminhos muito difíceis e imorais para trilhar e ele era um desses... Um cara inteligente, mas fraco, muito fraco...
Não consegui ficar em sua casa. Já era tarde, mas fui para a agência e peguei o primeiro ônibus de volta. Cheguei de madrugada em casa. E a frase de minha tia não me saia da cabeça: “cuidado para não se meter em coisa errada!” Imagine só a desculpa que tive de inventar e o sermão que tive de escutar quando ela me viu chegar àquela hora...